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sábado, 15 fevereiro , 2025

Capitalismo acima de todos. Dinheiro acima de tudo

Uma coisa é fato: a pandemia de Covid-19 prejudicou toda economia brasileira. Mas como foi que fizemos ainda mais bilionários?
Julio Medeiros e João Leite

Não é necessário um grande esforço para notar que a recessão econômica causada pelo Covid-19 também tem deixado vítimas: milhares de empregados foram demitidos, empresas fecharam e preços de alimentos e aluguéis fizeram da vida dos mais pobres algo ainda mais difícil e precária.

Em cidades como São Paulo, já é possível notar o aumento de moradores de rua, principalmente nas áreas centrais da cidade. Em recenseamento feito pela prefeitura paulista em 2019 os números apontavam para uma população de 24 mil pessoas em situação de rua. Um número que só tende a aumentar com cada vez mais desempregados e despejados.

Porém, na contramão da crise, durante a pandemia, o Brasil viu crescer ainda mais o patrimônio de quem já era bilionário. Um levantamento feito pela ONG Oxfam indicou que a fortuna dos bilionários brasileiros cresceu em US$ 34 bilhões, nesse período.

Mais do que números, esses dados trazem à tona uma realidade que o Brasil parece ignorar: independentemente das crises que ocorram, as grandes fortunas sempre aumentam no país. E esse é um fato que deve ser questionado.

Um dos pontos que poderiam começar a iluminar a questão é entender de que setores vêm a riqueza dos bilionários brasileiros.

O maiores nomes em fortunas encontram-se em setores que vão de bancos à cervejarias, bem como redes varejistas e empresas de investimento em startups: cada um desses setores atua, de maneira bem generalizada, no vão entre consumo e especulação financeira. Em alguns casos, ambos.

Com a crise trazida pela pandemia do novo coronavírus, os setores nos quais se encontram esses bilionários viram seu faturamento crescer exponencialmente diante do novo cenário: o número de vendas online, por exemplo, transformou a forma como grandes varejistas fazem seus negócios; os milhares de brasileiros desempregados, agora precisam de crédito bancário, principalmente para abrirem pequenos negócios virtuais, e por aí vai.

Ainda que esse exemplo seja bem simplista, é importante destacar que, dentro da lógica de mercado, lucrar, mesmo quando há crises, sejam nacionais ou internacionais, é parte de um processo natural e corriqueiro dentro do sistema capitalista.

Uma das frases mais comuns quando se fala de perdas e ganhos dentro do sistema capitalista é: “enquanto eles choram, eu vendo lenços” — uma máxima bastante autoexplicativa. Principalmente dentro da realidade brasileira.

Do outro lado, temos uma população que tem sofrido perdas significativas de renda, seja pela falta de emprego, que chega à casa dos 14 milhões de desempregados, segundo dados do IBGE , seja pela falta de medidas efetivas por parte do Estado.

O auxílio emergencial, por exemplo, depois de ser alvo de pressão popular e política, foi aprovado a muito contragosto e se mostrou insuficiente para manter as famílias mais vulneráveis em casa — principalmente quando se leva em conta a inflação, o preço do aluguel e dos custos de água e energia elétrica. Mesmo com o auxílio, os trabalhadores contemplados precisaram procurar outras formas de renda fora de casa, o que os expôs à vulnerabilidade sanitária e econômica.

Um contraste brusco aparece quando se reflete sobre o crescimento de patrimônio de bilionários e a perda de renda dos mais pobres, e é possível notar que um dos resultados da pandemia é o crescimento da desigualdade social.

Enquanto trabalhadores põe sua vida em risco em trens e ônibus das cidades na tentativa de conseguir o mínimo para sobreviver, uma pequena casta lucra com os insumos necessário à essa sobrevivência.

Some-se à esse quadro a mais completa inércia e pouco caso do governo brasileiro: a mais recente foi o descaso do Presidente Bolsonaro ao cometar a prorrogação do auxílio emergencial: “toca a vida”. O desprezo pela situação de milhares de brasileiros que já tem perdido tudo por conta da pandemia é evidente na fala do Presidente.

Os projetos que visam a taxação de grandes fortunas e que criariam mais oportunidades para distribuição mais justa de renda, por exemplo, encontram-se parados tanto por conta do lobby feito justamente por quem tem esse dinheiro, quanto pela falta de interesse político de quem governa — além da questão óbvia da corrupção.

A prova desse descaso é aumento insípido do salário mínimo em 5,26%, chegando a incrível cifra de R$1.100, anunciado como novidade pelo Governo Bolsonaro.

A somatória de todos esses fatores mostra a crueldade de um sistema que tira de quem já tem pouco e beneficia quem já tem muito.

Às camadas mais pobres parece caber somente o agradecimento pelo direito de estarem vivos — mesmo que com a dispensa vazia, alugueis atrasados e sem qualquer perspectiva de emprego e renda.

No balanço desse aumento patrimonial gigantesco não são contabilizados a espoliação econômica promovida por essas empresas, a promoção do consumo com objetivos de endividamento justamente da camada mais pobre, além do descaso pelas milhares de pessoas que sofrem “sem renda, sem trabalho e sem bens”.

A pergunta que fica é: quando o capitalismo realmente irá mostrar sua virtude para a população brasileira mais pobre e não apenas para os abutres que estão esperando sua morte financeira para se aproveitar e arrecadar ainda mais às suas fortunas?

João Leite e Julio Medeiros

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