16º ministro a deixar o Governo de Jair Bolsonaro (Sem Partido), Salles foi substituído por Joaquim Alvaro Pereira Leite e sai em um momento conturbado da gestão ambiental brasileira.
Foi sob a administração do ex-ministro que a Polícia Federal(PF) apreendeu 131 mil metros cúbicos de madeira ilegal — avaliada em R$129 milhões — na operação Operação Handroanthus. Segundo as investigações, Salles teria intervindo da própria PF para facilitar que quadrilhas transportassem a carga.
A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), a ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF) havia autorizado a abertura de inquérito para apurar se havia ligação entre a carga apreendida e o ex-ministro, resultado que não apareceu antes do anúncio da saída de Salles.
Problemas com o desmatamento
Além de desgastes com as investigações, O Ministério do Meio Ambiente de Salles já enfrentava pressões nacionais e internacionais quanto ao desmatamento no Brasil.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) havia alertado o Governo sobre o aumento recorde de desmatamento, sendo o atual o maior desde 2015. O instituto havia estimado para maio uma perda de 1.180km2 de área florestal, o que representa aumento de 41% em relação ao mesmo período de 2020.
O ministério também sofria pressões internacionais, principalmente da União Europeia e dos Estados Unidos. França e Áustria já haviam apresentado resistência ao acordo entre o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a própria União Europeia, alegando que o pacto prejudicaria os objetivos climáticos do bloco europeu.
O presidente americano Joe Biden também já havia pressionado Bolsonaro por mais de uma vez, além de ter cobrado do presidente uma postura prática em relação ao meio ambiente. Embora tenha se comprometido na Cúpula do Clima desse ano, A ação do Governo foi justamente na contramão: no Orçamento 2021, sancionado por Bolsonaro, 240 milhões do Ministério do Meio Ambiente foram cortados.
Sob nova direção
Com o posse de Joaquim Álvaro Pereira Leite, que já fazia parte do MMA, uma postura um pouco mais moderada é esperada do novo ministro, já que Joaquim tem experiência técnica em assuntos como clima e sustentabilidade.
Joaquim Álvaro Pereira Leite, novo Ministro do Meio Ambiente (MMA). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
O ministro já foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade que atua na “representação política em defesa do setor agropecuário para o desenvolvimento do Brasil”, segundo próprio site da associação.
A posse de Pereira Leite sinaliza uma tentativa do Governo Brasileiro de evitar maiores desgastes nacionais e internacionais, além de colocar um pessoa bem relacionada e capaz de estabelecer pontes com outras pastas, como a da Agricultura, feito que Salles não conseguiu em sua gestão.
Opinião: Pausa para respirar
A saída de Salles representa, ironicamente, um respiro para o Brasil: à frente do Ministério do Meio Ambiente, Salles foi um dos ministros de maior dano ao país: desmatamento crescente, acobertamento de quadrilha de madeireiros e alterações na regras que pautam o meio ambiente. “Passar a boiada” era sua filosofia.
Se Bolsonaro era a fumaça que aturdiu a imprensa, Salles era a queimada que destruiu diversos hectares de florestas.
Ainda que represente um alívio e uma tentativa de dar um caráter mais conciliador à pasta, Pereira Leite também joga no mesmo time de Salles: o MMA continua entregue nas mãos de pessoas com mais interesse no agronegócio do que na preservação de recursos importantes do ponto de vista ambiental.
Mesmo sob nova administração, o Ministério do Meio Ambiente ainda se encontra em uma relação imoral de interesses privados e o interesse público: uma prática lamentável que destrói e desmata o país.