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terça-feira, 18 fevereiro , 2025

Crise hídrica pode elevar ainda mais a inflação

Com a queda nos níveis dos reservatórios de água e maior uso de usinas termelétricas, conta de luz continua a subir e empurra a inflação para cima.
Eletricidade ficará mais cara em setembro

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse na terça-feira (24) que com impactos no preço da energia elétrica, a crise hídrica também pressionará a inflação nos próximos meses. A alta de 5% no custo da eletricidade já pesa no bolso de milhões de brasileiros.

Neto também manifestou preocupação com a inflação dos serviços e com gargalos internacionais no fornecimento de insumos, como semicondutores, que afetam os preços de várias mercadorias tecnológicas, por exemplo.

“[A crise hídrica] agravou-se muito com a falta de chuva e deve continuar sendo um elemento de pressão nos próximos meses”, disse Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Foto: José Cruz/Agência Brasil
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Já sobre a inflação dos serviços, ele disse que o grande risco está no fato de que a recuperação ocorre de forma distinta entre os setores, criando desequilíbrios temporários.

Outro fator que tem pressionado a inflação, segundo o presidente, é o que ele chama de inflação verde. A partir dos investimentos em tecnologias limpas e ecológicas, a demanda por determinados tipos de materiais, como alguns tipos de metais, tem subido.

Além disso, a adaptação de diversas técnicas de extração mineral tem elevado temporariamente o custo de alguns materiais, como o alumínio.

Taxas inflacionárias: expectativas e projeções

A inflação oficial está em 8,99% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerando 12 meses finalizados em julho.

Já na edição mais recente do boletim Focus, pesquisa de mercado feita toda semana pelo BC, os analistas financeiros projetaram que o índice fecharia este ano em 7,11% e atinja 3,93% em 2022. As projeções, no entanto, estão acima das metas de 3,75% em 2021 e de 3,5% no próximo ano.

A alta na inflação já afeta setores como o de transporte, produção de alimentos e serviços e tem efeito em cascata. Foto: Foto: Marcos Santos/ USP Imagens
A alta na inflação já afeta setores como o de transporte, produção de alimentos e serviços e tem efeito em cascata. Foto: Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

O presidente do BC acredita que a inflação deve convergir para a meta até o fim de 2022. Também apontou que as estimativas do mercado para o IPCA estão maiores que as expectativas do BC.

“O controle de expectativas de preços é a variável mais fundamental na economia. O BC entende que é muito importante perseguir a meta em um horizonte relevante”, destacou Campos Neto, afirmando que a autoridade monetária tem os instrumentos necessários para fazer a inflação voltar às metas estabelecidas.

Seca na região sudeste é justificativa para aumentos na conta de luz

A seca na região sudeste está sendo usada como justificativa para aumentos consideráveis nos valores das contas de luz de povo brasileiro.

Sobre o tema, o governo Bolsonaro e os agentes empresariais que controlam o setor elétrico nacional afirmam que há uma crise de escassez hídrica que levou ao esvaziamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Segundo eles, a região sudeste passa pela pior seca dos últimos 91 anos.

Para lidar com essa realidade, o governo Bolsonaro publicou a Medida Provisória 1.055 (MP 1.055/2021), de 28 de junho de 2021, que prevê ações emergenciais e regras excepcionais para o uso dos recursos hidroenergéticos. No texto, o presidente autoriza que os custos de produção sejam recuperados por meio da conta de luz da população, compensando os custos com o uso de usinas termelétricas, por exemplo.

Usina Termoelétrica Porto de Sergipe I, inaugurada por Bolsonaro em agosto do ano passado. Foto: José Cruz/Agência Brasil
Usina Termoelétrica Porto de Sergipe I, inaugurada por Bolsonaro em agosto do ano passado. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Alegando escassez nos reservatórios, o Governo Federal ressalta a segunda pior situação desde a privatização do setor na década de 1990, o que justificaria a mudança da taxa nas contas de energia no Brasil.

No entanto, os dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram que volume de água em reservatórios das hidrelétricas no último ano foi o quarto melhor da última década, o que equivale a mais de 51 megawatts.

Além disso, o volume de energia produzida por hidrelétricas ficou em mais de 47 MW em média, o que significa pouco menos de 4 MW abaixo da quantidade de água que entrou nos reservatórios no mesmo período.

Tarifas de energia sobem em setembro, mas risco de apagão permanece

O ministro da economia, Paulo Guedes, confirmou que haverá nova alta das tarifas em setembro. Porém, a possibilidade de o país ser obrigado a conviver com o racionamento de energia foi negada pelo governo até o momento.

“Não adianta ficar sentado chorando”, disse o ministro, durante audiência no Senado. “Temos de enfrentar a crise. Vamos ter de subir a bandeira, a bandeira vai subir”, acrescentou, em referência à bandeira vermelha das contas.

Paulo Guedes, ministro da Economia. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Paulo Guedes, ministro da Economia. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Já o ONS alertou para o risco de apagões a partir de outubro, caso a produção energética adicional não aumente, pelo menos, em 7,5%.

O órgão recomendou ao governo que aumente o uso das termelétricas e considere a importação de energia, considerando que com a seca que afeta o país, a oferta das hidrelétricas será insuficiente para a produção.

Atualmente, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, estão operando com 22,5% da capacidade de armazenamento. Este número está abaixo do registrado na crise energética de 2001, em que as represas encerraram agosto com 23,4% de volume de água.

Bolsonaro pede à população que “apague um ponto de luz”

O presidente Jair Bolsonaro admitiu o perigo da crise hídrica enfrentada pelo país, dizendo que a situação está no “limite do limite”. O presidente pediu para que as pessoas economizem energia e apaguem um ponto de luz em suas casas.

A crise hídrica tem sido mais um dos dissabores da Presidência da República. Além de ter de lidar com a alta na inflação também por conta do preço da conta de luz, Bolsonaro lida com os embates com outros Poderes, o que tem minado ainda mais a popularidade do presidente.

Durante live no último dia 26, Bolsonaro pediu aos brasileiros que apaguem "[...] um ponto de luz agora". Foto: Reprodução YouTube.
Durante live no último dia 26, Bolsonaro pediu aos brasileiros que apaguem “[…] um ponto de luz agora”. Foto: Reprodução YouTube.

Como forma de evitar o desabastecimento de eletricidade no país, além do uso recomendado das termelétricas, o presidente determinou que os órgãos públicos federais deverão reduzir o consumo de energia de 10% a 20% entre setembro de 2021 e abril de 2022. No entanto o consumidor não deverá ver uma conta de energia mais branda até o fim do ano.

Segundo o ONS, os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste podem chegar a 10% da capacidade até novembro, quando começa o período chuvoso.

João Leite

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