As manifestações convocadas para amanha, 7 de setembro, são um marco histórico nacional: seja pelo seu significado político e social, seja pela capacidade de mobilização tanto de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto de partidos e movimentos de oposição.
Contudo, percebe-se o crescimento de uma tensão incômoda.
Não se pode fechar os olhos para o tom golpista dos ideais defendidos por aqueles que se coadunam com o governo que hoje ocupa a Presidência da República. São proposições nefastas que tentam ser vendidas como ato heroico similar ao do Dia da Independência do Brasil, mas que solapam os mais de 30 anos da democracia no país.
As passeatas marcadas para amanhã e que tem como alvo o Supremo Tribunal Federal, o Congresso, o processo eleitoral, a vacinação, a livre imprensa e a independência dos Três Poderes precisam ser duramente rechaçados política e socialmente, além de serem relegadas ao ostracismo por não serem compatíveis com o princípios que hoje são consenso entre as sociedades democráticas do mundo.
Não há mais tempo ou espaço para personalismos presidenciais, tampouco para fantasmas comunistas à espreita. O resultado desse tipo de pensamento e atitude já são conhecidos e sentidos principalmente pelas camadas mais pobres, vulneráveis e minoritárias da população brasileira.
O discurso das passeatas de 7 de setembro a favor de Bolsonaro e contra “todo o resto” são o que há de pior na política nacional: lixo ideológico que se pressupõe superior ao debate, à fala e à convivência pacífica entre as diferenças e lados.
Teme esse portal Desgovernados pelo recrudescimento dos avanços democráticos conquistados pela Carta Magna de 1988 e que estão na mira das manifestações que apoiam o presidente. Teme por mais essa tentativa de abalar as convicções necessárias à manutenção da liberdade política, econômica, sanitária e social do país.
Salienta esse portal, também, o repúdio desta Redação pelo notório tom ditatorial das falas do Presidente da República, principalmente em relação à imprensa livre e à ruptura institucional, princípios sagrados pela mesma Constituição de 1988.
É preciso tornar pacífico o compromisso social pela defesa intransigente dos ideais democráticos e reforçar, nesse momento, a necessidade da valorização da liberdade de expressão e de culto, da igualdade racial e de gênero, da diversidade sexual, da promoção da educação, da ciência e da saúde públicas, universais e gratuitas.
Igualmente, é chegado o momento de defender a manutenção da separação entre os Três Poderes, a continuidade do voto eletrônico, a vacinação em massa, a responsabilidade e probidade administrativa e econômica do Brasil, além do respeito de suas lideranças, sejam elas legislativas, executivas ou judiciárias à letra e rigor da lei.
Por isso, é inaceitável que o ocupante — ressalte-se, temporário — da cadeira presidencial brasileira utilize seu cargo e influência para submeter a nação à suas fantasias megalomaníacas de poder.
As falas do presidente Bolsonaro à democracia brasileira não são um grito à sua independência, mas sim um prelúdio à sua morte.