Os recentes casos de violência tanto física quanto sexual que tomaram lugar no cotidiano brasileiro chocaram a opinião pública pela aparente normalidade com a qual foram perpetradas por seus algozes.
No sábado (9), um policial penal, Jorge Guaranho, — atente-se, agente da lei, ao menos à priori — sentiu-se em pleno direito de invadir uma festa familiar e atirar em seu aniversariante, o guarda municipal Marcelo Arruda, militante do Partido dos Trabalhadores (PT).
Evidentemente, Guaranho é o típico homem que demonstra sua força através de uma arma.
É válido salientar que nenhum tema deveria ser passível de tal violência: o mais ferrenho antipetista, ou mesmo antibolsonarista, deveria se ater às regras da democracia, e ao seu conceito mais primordial: o do diálogo e da discordância pacífica.
Contudo, é assustador o fato de que as violência políticas, principalmente em época de eleições, tiveram aumento significativo. Só entre 2020 e 2022 foram 23% mais casos de violência política, conforme aponta o Observatório da Violência Política e Eleitoral, do Giel (Grupo de Investigação Eleitoral) da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).
É fato, claro, que as discordâncias podem estar e se fazer nos mais diferentes aspectos que a democracia e o estado democrático de direito têm: há quem acredite que uma voz de um líder supremo, forte e autoritário é o que o Brasil precisa nesse momento. Há quem acredite em uma revolução armada como solução. Paciência, a democracia tem disso.
Contudo, é inegável que o assassinato promovido por Guaranho tem caráter político e evidencia toda uma ideologia social torpe centrada num tipo específico de sexo biológico, moral, costumes e lado espectro político.
Embora eufemismos sejam usados para se dizer que as investigações estão em curso, há, sim, um clima de ódio por quaisquer ideias que rondem o espectro político mais à esquerda. Ideias que falem sobre consensos, como a própria violência, já são logo taxadas pela pecha de “esquerdistas”.
É um ódio que tem origem clara no discurso oficial de Bolsonaro.
Que, por sua vez, se apresenta como “machão”, mas tem sua virilidade questionável — haja vista sua incapacidade à execução de flexões, exercício que, inclusive, deveria ter feito mais vezes durante seu período na Academia Militar dos Agulhas Negras.
Sejamos francos: todos sabíamos que Bolsonaro seria esse tipo de mandatário.
Coube, porém, à consciência de cada um o voto e o fato de levar para o travesseiro a responsabilidade de entregar o país a um tipo como é o Presidente: machista, homofóbico, misógino e violento.
E aqui chegamos a outro ponto importante da fala: o caso do estupro posto a cabo pelo médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, o qual só expõe mais uma faceta de uma lógica que privilegia homens, brancos e de maior grau de instrução formal.
O que se percebe, ao fim e ao cabo, é que nossa sociedade como um todo é viciada em homens: foco de todo bem, mas também autores de todo mal.
Há de se comentar que o ato do médico, gravado pelas enfermeiras, é um dos muitos que ocorrem no país: eles estão nas piadas sexistas, nos toques inoportunos e inaceitáveis, no uso da força para um beijo, na interrupção de falas e atos feitos por mulheres, entre muitas outras coisas — e que também são ditas ou feitas pelo próprio presidente no chiqueirinho em volta do Palácio da Alvorada.
O que une esses casos é o fato de que todos têm a presença de um homem, os quais se sentem no direito de fazerem o que bem querem: um aponta a arma para qualquer um que discorde dele; outro fala asneiras em frente à residência oficial e outro abusa como se isso fosse algo normal.
Não houve, em nenhuma dessas personagens, qualquer receio de punição: pelo contrário, seus atos demonstram uma certeza assustadora da segurança que sua condição de homem os confere no Brasil.
Tanto Guaranho, quanto Bolsonaro e Quintella Bezerra exalam sua essência masculina: um se sente forte ao portar uma arma; outro sente se sente machão ao fazer chacota com jornalista sobre um furo; e o último se satisfez através de um ato absurdo e desumano.
Saliente-se: eles não são monstros. São homens. É sempre um homem.