É inacreditável que pessoas como Paulo Guedes, Ministro da Economia, ajam com tamanho desprezo pela população mais pobre e vulnerável do país. Em declaração recente, Guedes afirmou que:
“O prato de um classe média europeu, que já enfrentou duas guerras mundiais, são pratos relativamente pequenos. E os nossos aqui, nós fazemos almoços onde às vezes há uma sobra enorme. Isso vai até o final, que é a refeição da classe média alta, até lá há excessos”.
A frase do Superministro de Bolsonaro vem num momento que em o Brasil voltou para o mapa da fome e que voltou a aumentar o número de pessoas em situação de insegurança alimentar — quando não se sabe se haverá alimentação no tempo futuro.
São mais de 125,6 milhões de pessoas que não tem se alimentado como deveriam ou que já vivenciaram incertezas quanto ao acesso à alimentação adequada. Boa parte dessas pessoas foram afetadas pela Pandemia de Covid-19.
Os dados foram apresentados em uma palestra intitulada Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em abril desse ano.
O que é de se notar, diante do contexto a da fala do Ministro é como ainda predomina uma visão elitista sobre a população mais pobre — maioria, principalmente por conta da pandemia, já que a desigualdade voltou a ser predominante.
As declarações por si só são absurdas, mas não deixam de ser corriqueiras tanto na vida e espaços comuns a uma classe média que sofre de megalomania, além de encontrar eco em um Estado cujo Ministro da Economia — bancário e economista — reclama que a “farra de empregada doméstica ir para a Disney acabou” e que sugere, com as declarações acima, uma redistribuição de os alimentos que eles ricos consomem e sobrarem devem ir para os mais pobres por que a classe média e rica desperdiçam demais. Sim essas declarações foram dadas em alto e bom som por um ministro da economia.
Apesar da repercussão na imprensa e revolta da população ao ouvir tais declarações do próprio Ministro de Economia, isso não pareceu incomodar Guedes.
Um dos pontos que mais geraram indignação sobre as declarações de Guedes é o fato de que não foram apresentadas medidas econômicas pensadas para diminuir essa diferença entre a alimentação de diferentes classes sociais do Brasil, o Ministro preferiu culpabilizar o consumo da classe média para explicar a situação dos mais pobres.
Apesar dos rumores de criação de um programa mais amplo de distribuição de renda para além do auxílio emergencial ou Bolsa Família, o Ministro já é conhecido pelas declarações de que esses programas criavam “pobres preguiçosos e encostados”, mesmo esses tendo pífios valores que alcançam valores de pouco mais de R$300 — valor insuficiente para sobrevivência, já que índices como IGP-M, que regula os alugueis, por exemplo, subiram 23,14% em 2021, segundo a Fudação Getúlio Vargas, que calcula e divulga o índice.

Os valores pagos por programas sociais hoje não são suficientes para contas comuns como água, luz ou mesmo a própria alimentação de uma família composta de quatro membros.
Vale lembrar que a conta de luz ficará mais alta por conta da volta da bandeira vermelha — um ironia, considerando o medo do comunismo pelo Governo.
São milhares os que se encontram em situação de rua, cifra que tem aumentado ainda mais durante a pandemia de Covid-19.
Mesmo que seja eliminado o contexto, as frases do ministro demonstram, pelo menos, falta de empatia: o número de profissionais informais, maioria na população brasileira, com situações de fadiga por assumirem jornadas excessivas em busca de complemento à sua renda — que já é pífia e que ainda sim encontra-se em claro ataque por parte do Ministro. Em sua opinião, esse dinheiro soa quase como um grande favor.
As declarações do ministro parecem completamente descoladas de qualquer noção de realidade: acabar com a desigualdade, reformar o salário mínimo, diminuir o hiato entre a classe mais pobre e a classe média não soam como alternativas viáveis, mas ao senhor ministro achou por bem considerar o manejamento de alimentos como solução.
Soa como se essa ideia tivesse surgido durante seu farto café da manhã, servido por alguma empregada doméstica “da família”: notou seu desperdício e achou grande ideia deixar as sobras para a funcionária. Deve ter-se achado genial: economizaria uma grana e ainda teria a consciência tranquila por ter servido a ela Perrier e queijo brie.