O chamado “super” pedido de impeachment protocolado ontem (31) traz um novo episódio conturbado na desastrosa gestão do presidente Jair Bolsonaro. Além de significativo, o gesto mostra legítima articulação entre as diferentes forças políticas brasileiras que, muitas vezes, não operam de maneira conjunta.
Dessa vez, líderes e partidos da oposição como PT, PSOL e PCdoB, e movimentos como a Coalizão Negra por Direitos estão unidos com nomes como os do deputado de Kim Kataguiri (DEM-SP) e Joice Hasselmann (PSL-SP) — ex-líder do Governo na Câmara dos Deputados. Entre ex-aliados e inimigos políticos, somam-se 140 deputados.

O pedido de impeachment surge em um momento delicado do mandato de Bolsonaro: são diversas as acusações de má gestão por parte do Presidente da República: escândalos tem surgido por toda parte, oriundos principalmente das investigações conduzidas pela CPI da Covid — espaço onde “todos os homens do presidente” estão em minoria.
Incitação das forças armadas, tentativa de dissolver ou impedir o funcionamento do Congresso, abuso de poder e outros: não faltam motivos para o afastamento de Bolsonaro da Presidência segundo documento apresentado ontem. Porém, nenhum ganha maior notoriedade do que a omissão presidencial para evitar o contágio e morte de brasileiros para a Covid-19. Mais de 500 mil brasileiros morreram.
Em que se pese os diversos fatos trazidos por diversos meios de comunicação e imprensa, a cobrança de propina, noticiada nesse portal Desgovernados, foi uma das que mais minou a já pífia solidez do gabinete de Bolsonaro: a eleição sob a bandeira de acabar com a corrupção parece rasgada ante à negociata feita no Ministério da Saúde. A moeda é a vida de milhares de Brasileiros.
Contudo, é válido lembrar: são 140 deputados contra uma casa de 513 e um presidente da Câmara. Arthur Lira (PP-AL) faz vistas grossas aos mais de 100 pedidos de impeachment contra o presidente, enquanto o “centrão” estabelece, como sempre, o preço de sua fidelidade. A conta não incluiu o preço do Senado. Dimensiona-se o pedido ao tamanho da necessidade.

O convencimento dessa parcela da Câmara Baixa brasileira é um dos maiores desafios da Oposição. O esforço é positivo, mas precisará ir além da listagem dos crimes cometidos pelo Presidente: urge estabelecer um acordo sólido em defesa da democracia — ainda que seja sabido que historicamente acordos no Congresso custem cargos e verbas.