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quinta-feira, 19 dezembro , 2024

Perseguição cristã: um delirio coletivo?

Atualmente diversos estados autoritarista difundem a perseguição religiosa...
Julio Medeiros e João Leite

Em análise dos últimos anos de presidência de Jair Bolsonaro, um dos lugares onde o Bolsonarismo encontrou maior ressonância foi no setor cristão da sociedade brasileira, principalmente entre os evangélicos.

Tradicionalmente conservadores em políticas e costumes, os evangélicos têm sido um dos pilares em que tem se sustentado os maiores argumentos da direita e extrema direita do país: em nome Deus e da Família, milhares de candidatos foram eleitos e conquistaram seu lugar junto à bancada evangélica: que conta hoje com 84 deputados e 7 senadores.

Contando com uma agenda própria e pouco inclinados ao diálogo, os evangélicos são uma das denominações que mais cresceram nos últimos anos.

Isso porque o formato vertical do funcionamento da igreja evangélica, normalmente no qual o pastor detém os poderes espirituais e administrativos da igreja, privilegia a opinião dele em detrimento das dos fiéis. São poucas as igrejas que de fato promovem debates em torno de seus próprios princípios.

Dos púlpitos aos grupos de Telegram, o principal discurso é a perseguição da Igreja.

Quem são os evangélicos

O evangélicos do Brasil, aproximadamente composto de 22,2% em 2010. O último censo indica um número de 42,2 milhões de fiéis evangélicos (dados esses defasados). Os evangélicos foram um dos grupos religiosos que mais cresceram.

De igrejas em portas de garagem a templos com pedras trazidas de Israel, os evangélicos não podem ser enxergados como um grupo homogêneo, mas como uma unidade de entes dos mais diferentes tipos.

Batistas, Metodistas, Adventistas, Pentecostais e Neopentecostais são exemplos de denominações que fazem parte dessa população.

Se são muitas as denominações, tanto são os setores e públicos que atendem, havendo recortes sociais bastante nichados — um tipo de configuração que pode ser usada tanto para fins comerciais, bem como políticos.

Cristianismo como ideologia

Como toda em toda religião, existe uma narrativa de uma visão de mundo, uma teogonia fundamentada entre uma narrativa heróica do primeiros povos judeus aliada à figura messiânica de Jesus, filho de Deus.

Essa versão, acreditada pela maioria das denominações, por si só, tem aplicações políticas: questões como a relação entre a Palestina e o Estado de Israel — terra do povo de Deus e local de nascimento do Messias — são observadas pelo prisma religioso: toda decisão do Governo Israelense ganha imediata aprovação da maior parte dos evangélicos.

Não é a toa que, em muitas manifestações, as camisas e bandeiras verde e amarelas dão lugar ao azul e branco da bandeira de Israel. Mistura-de a terra mítica ao Estado de Israel. Mesmo quando esse mesmo Estado promove bombardeios aéreos desproporcionais e mata, entre “criminosos”, centenas de crianças palestinas.

Funciona também quando se discute o cotidiano político nacional: pautas públicas

A argumentação, fundada ainda durante a Guerra Fria e nos regimes totalitários socialistas e comunistas, é de que a esquerda brasileira pretende perseguir e acabar com os cristianismo quando chegar ao poder.

Ainda que a ideia de perseguição religiosa cristã, no sistema democrático brasileiro, seja improvável e pouco factível, é válido lembrar que a perseguição de qualquer natureza, além da ausência de um sistema realmente democrático são pontos inegociáveis na modernidade, e que devem ser rechaçados por qualquer um — inclusive esse portal Desgovernados. Nenhuma forma de autoritarismo deve ser aceita.

E é nessa esteira que segue a argumentação da massa evangélica.

Maior prova de seu argumento são países como a China, tradicional vilã da trama. Seu partido único e uma política pautada de cima para baixo fugiriam à noção de sistema democrático — abençoado pelo divino —, já que perseguem os cristãos que pregam a palavra de Deus aos chineses.

Contudo a é difícil a sustentação da narrativa cristã vigente no Brasil, já que o problema da perseguição religiosa fala mais sobre regimes políticos que de alinhamentos ideológicos.

Perseguição como política de Estado

É preciso reconhecer a fama do estado Chinês sobre a política de um filho, bem como controla a produção gráfica e de conteúdo no país, fiscalizando as informações que circulam no país. Sites do ocidente são bloqueados.

Mais do que ter um foco em um grupo específico como os cristãos chineses, a China continental tem um sistema político que permite ao Estado o controle total da vida dos seus cidadãos.

O foco é a manutenção do poder estatal, assim, se determinado grupo, independentemente de quem seja, for considerado contrario à política oficial, ele será perseguido, seja ele religioso, político ou ideológico: esquerda ou direita pouco importa. “Viva o regime!”

Histórico de perseguição

Em análise rápida, o histórico do Brasil depois do golpe militar e que foi transformado em um estado que exerciam forças contra o comunismo também perseguiu religiosos que estavam envolvidos em ações sociais e apenas uma parte da igreja foi perseguida pelo apoio dado ao sistema, então foi um sistema que perseguiu membros da igreja sendo um sistema de direita.

Atualmente diversos estados autoritarista difundem a perseguição religiosa e nesse caso falando especificamente contra cristão temos diversos motivos, entre eles – paranoia ditatorial, opressão islâmica, nacionalismo religioso e opressão comunista.

Quando analisamos os motivos a “opressão comunista” fica apenas com duas ocorrências em um ranking de 50º países um deles a China apenas em 43º lugar, aparecendo mais vezes o nacionalismo religioso que aparece com mais ocorrência sendo cinco vezes e que está diretamente envolvido principalmente junto ao estados de direita e que hoje está mais alinhado as políticas Bolsonarista. Um deles é a Índia que ocupa essa lista no 11º – Dados completos no portal da veja https://veja.abril.com.br/mundo/perseguicao-onde-os-cristaos-sao-vitimas-de-opressao-e-violencia/

A Índia é um pais governado por um partido de extrema direita e que promove a perseguição religiosa sobre a população cristã, então um dos argumentos nesse caso é que não importa se o estado é de esquerda ou de direita tem muito mais a ver sobre a perspectiva autoritária que os estados exercem do que sobre o seu alinhamento ideológico e o mais importante estamos longe de viver um sistema antidemocrático com a esquerda, o próprio PT (partido dos trabalhadores) esteve no poder por doze anos e não flertou com a ruptura do estado de direita, como o atual presidente flerta dizendo que não aceitara derrota ou mostrando desprezo aos possíveis processos de Impeachment.

Então o que é importante perceber que o nacionalismo religioso pregado pelas políticas Bolsonaristas, defendendo a nação e pregando que vai ser mais forte com uma unidade religiosa se torna totalmente controverso se a população cristã tem medo de ser perseguida religiosamente, porque demonstra o mesmo comportamento em perseguição a comunidade LBTQI+ e os próprias pessoas com alinhamento mais a esquerda?

Acaba que se não conseguimos dialogar e pensar como ser humanos e aceita as diferenças que temos não pregamos o que o próprio Jesus pregou em vida e caímos na barbara de perseguição com discursos tolos e vazios.

João Leite e Julio Medeiros

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