Em reportagem exclusiva cedida à Folha de São Paulo, Luiz Paulo Dominguetti Pereira afirmou que recebeu pedido de propina em esquema para compra de vacinas de Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde. Dominguetti é representante da Davati Medical Supply, uma das distribuidoras da vacina da AstraZeneca. O pedido foi feito durante encontro entre Dominguetti e Dias no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, em Brasília.
Ainda segundo a reportagem, a empresa entrou em contato com o Ministério da Saúde para fazer oferta de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca com preço de U$ 3,5 por dose, preço que foi alterado posteriormente para U$15,5, oferta que foi recusada pela pasta.
Suposto grupo opera dentro do Ministério da Saúde
Luiz Paulo Dominguetti Pereira é representante da Davati Medical Supply, distribuidora de produtos farmacêuticos internacionais com mais de 20 anos de mercado, sendo seu mais recente produto de distribuição a vacina desenvolvida pela AstraZeneca.
Segundo Dominguetti, esse foi argumento mais sólido utilizado por Dominguetti para oferecer as vacinas à Pasta da Saúde, reforçando a capacidade da empresa de operar na distribuição do imunizante.
Mas, segundo relato do próprio representante, durante a conversa com Roberto Ferreira Dias, para que a empresa pudesse realizar a venda para o Ministério da Saúde, ela precisaria “compor um grupo”.
Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?'”, disse Dominguetti à reporter Contança Rezende, da Folha de São Paulo.
Dominguetti disse que, durante o encontro, soube da existência de um grupo dentro do Ministério da Saúde e que para conseguir fechar negócio com o ministério para a venda de vacinas é necessário atender a essa “composição”. Ainda segundo o que diz, a composição seria o acréscimo de U$ 1 por dose da vacina, e quem estivesse fora do grupo não conseguiria vender as doses ao Ministério da Saúde.
“A eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma […].”, disse Dominguetti a Dias durante o encontro no restaurante.
A conversa, que ocorreu no dia 25 de fevereiro, se deu em tom de normalidade, mesmo que naquele dia o Brasil tivesse alcançado a marca de 250 mil mortos vítimas da Covid-19. A prova desse clima seria a naturalidade com que Dias brindou com chope e pediu para que Dominguetti “pensasse direitinho” quando este recusou o pagamento da propina na compra das vacinas.
“Aí ele falou que era para pensar direitinho e que ia colocar meu nome na agenda do ministério, que naquela noite que eu pensasse e que no outro dia iria me chamar”, disse sobre o comentário de Dias à reportagem da Folha.
O representante também disse que a reunião ocorreu na presença de um militar e um empresário de Brasília que não foram identificados na reportagem.
Quando questionado sobre quem comporia esse grupo, Dominguetti afirmou não saber quem eram “os personagens” desse grupo. Segundo ele, o tom da conversa já demonstrava que “o trem não era bom”.
A falta de interesse do Ministério da Saúde
Dominguetti relatou que houve oferta de vacinas para o Ministério da Saúde em encontro com Élcio Franco Filho, ex-secretário-executivo e 2º no Ministério da Saúde de Pazuello, e com Roberto Dias, responsável pela logística do Ministério da Saúde. Segundo o representante da Davati, a compra não ocorreu porque não houve interesse da pasta.
A negociação, segundo Luiz Dominguetti, teria tentado correr por outras vias que não as apresentadas por Dias, principalmente em novo contato com Élcio Franco Filho, que não respondeu e não demonstrou interesse na compra das vacinas.
“Ninguém queria vacina”, afirmou à reportagem.
O escândalo das vacinas
Desde o depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF), colhido na sexta-feira (25), o Governo de Jair Bolsonaro tem sido alvo de diversos escândalos envolvendo compra e distribuição de vacinas.
Em primeiro lugar, a própria CPI da Covid já apontava para a omissão por parte do governo brasileiro na compra de vacinas da Pfizer, que chegou a oferecer as doses a U$ 10 (aproximadamente R$ 49,57), metade do valor de mercado na intenção de usar o Brasil como vitrine da eficácia do imunizante. Foram pelo menos 81 e-mails não respondidos.
Depois, surgiram dúvidas em relação ao contrato de compra das vacinas da Covaxin, até agora um dos maiores escândalos enfrentado pelo Planalto, já que houve denúncias de irregularidades e superfturamento arquitetados, segundo depoimento de Luis Miranda, pelo líder do Governo na Câmara, como noticiou esse portal Desgovernados.
Hoje (29) também foi anunciada a suspensão dos contratos de importação da Covaxin pelo Ministério da Sáude. Nesse mesmo sentido, os contratos de compra das vacinas Covaxin foram suspensos sob a alegação de medida preventiva, já que as denúncias de irregularidades ganharam notoriedade nacional.
Com a exclusiva trazida esta noite pela Folha de São Paulo, novas acusações graves surgem, como esquema de cobrança de propina para venda de vacinas para o Ministério da Saúde, o que expõe o Governo Bolsonaro a novas vulnerabilidades, principalmente com o “centrão”, que já busca o descolamento do presidente e com a oposição que já se articula para manifestação do dia 3 de julho.