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terça-feira, 4 fevereiro , 2025

Dólar mantém hegemonia global apesar da pressão de moedas emergentes

O dólar americano segue como principal moeda nas finanças internacionais, apesar do crescente debate sobre a desdolarização e do fortalecimento de moedas emergentes, constata relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS, da sigla em inglês).

O estudo do BIS revela que o dólar está presente em 90% das operações com derivativos cambiais, mercado que ultrapassa US$ 100 trilhões em contratos em aberto. A cifra equivalente ao PIB mundial em 2023 e é quatro vezes superior ao comércio global (US$ 24 trilhões) do mesmo ano.

Em termos de reservas cambiais internacionais, apesar da queda em relação ao pico de 80% em meados dos anos 1980, o dólar segue como moeda principal, correspondendo a quase 60% dessas reservas, seguida pelo Euro, que equivale a 20% do total.

O euro já teve maior presença, mas perdeu força após a crise da dívida soberana na Zona do Euro. Já a presença do Iene tem diminuído impulsionado tanto pela resseção que atravessa a ilha, quanto pelos efeitos econômicos da política de juros.

Nesse cenário, a força do dólar se ancora na profundidade e liquidez dos mercados de capitais americanos, na estabilidade das políticas monetária e fiscal dos EUA e em seu status de moeda de reserva global.

O domínio da moeda, no entanto, tem sido questionado através de um movimento de desdolarização das economias, com expotene no grupo do BRICS, bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de outro nove membros na África, Ásia e Oriente Médio.

Através do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, da sigla em inglês), também conhecido como Banco de Desenvolvimento do BRICS, os países membros têm financiando projetos de infraestrutura e desenvolvimento utilizando moedas locais, visando fortalecer as alternativas ao dólar, atitute que foi comentada pelo presidente eleito dos Estado Unidos, Donald Trump, no úlitmo doming (1).

Volume de operações em dólar supera 4 vezes o valor do comércio mundial

O relatório do BIS mostra que, em 2022, o volume de negócios diário com a moeda americana ultrapassou US$ 5 trilhões, com o dólar presente em 90% de todas as operações com derivativos cambiais.

Olhando para o desempenho de outras moedas, o par Dólar-Euro lidera as negociações, respondendo por 23% do volume global, seguido por outros pares como Dólar-Iene e Dólar-Libra. Já os dólares canadenses e australianos passaram a compor reservas cambiais somente a partir de 2012.

Outro dado que reforça a predominância do dólar é a seu uso em transações “offshore” de acordo com o relatório do BIS, ou seja, ocorre entre agentes fora dos Estados Unidos. Nesse contexto, o Euro, Iene e Libra esterlina, embora relevantes, ocupam posições menores no mercado global, atuando como diversificação de capital.

A faturação do comércio internacional em dólar e a busca por ativos seguros denominados na moeda americana reforçam esse domínio, uma vez que a moeda americada também dá ao país jurisdição sobre o ordenamento da moeda onde quer que esteja sendo utilizada.

Os desafios da desdolarização

A desdolarização, um movimento que busca minimizar o papel do dólar em transações internacionais, tem ganhado força nos últimos anos, especialmente entre os membros do BRICS.

O Yuan, moeda chinesa, tem demonstrado um crescimento em sua participação de mercado. Até meados de 2012, sua representatividade nas reservas globais era praticamente nula. Contudo, dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2024 indicam que o Yuan já alcança 2% do total, sinalizando um avanço, embora ainda tímido, da moeda chinesa no cenário internacional.

Esse crescimento reflete, em parte, a crescente influência econômica da China e os esforços do governo chinês para internacionalizar sua moeda.

O movimento, no entanto, foi criticado pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. O republicano destacou em sua fala uma possível taxação, caso países optem por outra moeda.

Donald Trump celebrando vitório sobre a candidada democrata Kamala Harris, em 06/11/2024. Foto: RS(Fotos Públicas)
“Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana”, escreveu Trump em sua plataforma de mídia social, a Truth Social.

Durante seu mandato, Trump engajou um guerra tarifária com a China, taxando diversos produtos chineses sob alegação de que a transferência de fábricas e produção para plantas instaladas no país estaria roubando empregos americanos.

O Novo Banco de Desenvolvimento, um dos principais financiadores dos projetos dentro do escopo do BRICS ten sede em Pequim, na China, e é presidido pela ex-presidenta Dilma Rousseff. Em seu discurso na Cúpula dos BRICS em Kazan, Rússia, em outubro desse ano, Rousseff, criticou o “uso do dólar como arma”.

A ex-presidente do Brasil também destacou a expansão do dos BRICS como prioridade para o banco, afirmando que “novos membros reforçam o papel do banco como uma plataforma de cooperação entre os países do Sul Global”.

Rousseff já havia feito críticas à moeda americana em julho desse ano, durante o evento States of the Future, paralelo ao G20, em julho, quando abordando as dificuldades do crescimento industrial com um dólar valorizado.

Presidente da Russia Vladimir Putin com a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff. Foto: Kristina Kormilitsyna (BRICS).
“O fato de ser uma moeda nacional e cumprir um papel de reserva internacional, cria contradições. Por exemplo, como é possível praticar a política de taxa de juros baixas para reindustrializar as economias desenvolvidas e, ao mesmo tempo, reindustrializar um país que precisa de dólar fraco e taxa de juros baixas para ser competitivo”.

Naquela ocasião, destacou o papel de estados nacionais na construção de políticas industriais, e apontou para o que considera uma contradição em relação ao papel do dólar na economia mundial.

“Isso cria contradições, por exemplo, como é possível praticar a política de taxa de juros baixas para reindustrializar as economias desenvolvidas e, ao mesmo tempo, reindustrializar um país que precisa de dólar fraco e taxa de juros baixas para ser competitivo e diminuir seu deficit em conta-corrente e também seu superavit de capital?”

Embora o relatório do BIS evidencie que o dólarmantém sua posição central nas finanças internacionais, os países do Brics tem buscado por alternativas ao dólar em meio a preocupações com a vulnerabilidade a mudanças na política monetária dos EUA.

Ainda que a estabilidade econômica americana, observada nas últimas décadas, reduza a probabilidade de impactos imediatos nas transações em dólar para emergentes, a geopolítica atua como um fator relevante nesse movimento, já que a exclusão de bancos russos do sistema SWIFT, após a invasão da Ucrânia — sanção imposta há quase três anos —, e possíveis aumentos nas tarifas a produtos chineses, dificulta o acesso e a operação com a moeda americana.

Foto capa: Jorge Araujo (Fotos Públicas)

João Leite

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