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quinta-feira, 23 janeiro , 2025

A criação de uma moeda do BRICS: uma alternativa ao hegemonia do dólar

A criação de uma moeda do BRICS propõe reduzir a dependência global do dólar.
Foto:16ª cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia – 24/10/2024 (Foto: Maxim Shemetov/Pool via Reuters).

A proposta de criar uma moeda comum para o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem ganhado força no cenário geopolítico, trazendo à tona uma ideia que desafia a hegemonia do dólar no sistema financeiro global. Esse debate não é apenas uma questão técnica ou econômica, mas também uma afirmação de soberania diante da dependência excessiva de uma única moeda, que tem servido, muitas vezes, como instrumento de poder para os Estados Unidos.

A dependência do dólar e suas consequências

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o dólar assumiu o papel central nas transações globais, consolidado pelo acordo de Bretton Woods em 1944. No entanto, essa centralidade trouxe consigo uma dinâmica de dependência para outros países, que passaram a sofrer impactos diretos das políticas econômicas norte-americanas, como elevações nas taxas de juros pelo Federal Reserve ou sanções econômicas unilaterais.

Qualquer movimento de autossuficiência ou tentativa de um país melhorar sua situação interna frequentemente resulta em punições econômicas, seja por sanções comerciais, seja pela exclusão de sistemas como o SWIFT, essencial para transações internacionais. Essa postura hegemônica, em que o sucesso de outras nações parece ameaçar os interesses dos Estados Unidos, reforça um desequilíbrio de poder insustentável.

Uma moeda do BRICS: caminho para a autonomia

Diante dessa realidade, a criação de uma moeda para o BRICS surge como uma possibilidade estratégica de reequilibrar o jogo. Essa moeda poderia ser usada para transações comerciais e financeiras entre os países membros, reduzindo a dependência do dólar e, consequentemente, a vulnerabilidade a decisões unilaterais de Washington.

Além disso, o movimento já encontra precedentes. A China e a Rússia, por exemplo, têm intensificado o uso de suas moedas nacionais em transações bilaterais, como parte de uma estratégia de desdolarização. Até o momento, essas iniciativas não apenas têm funcionado, como também demonstram que é possível operar fora da sombra do dólar. Se isso já está sendo feito em escala bilateral, por que não ampliar a ideia para um bloco como o BRICS?

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Desafios e oportunidades

Certamente, criar uma moeda comum não é simples. Há desafios técnicos, como a definição de uma política monetária conjunta, e barreiras econômicas, dado que os países do BRICS possuem realidades muito distintas em termos de inflação, crescimento econômico e estabilidade financeira. No entanto, a diversidade do grupo também representa uma oportunidade única. Juntos, os países do BRICS somam cerca de 40% da população mundial e mais de 25% do PIB global (G1), o que confere ao bloco uma influência significativa no comércio e na geopolítica.

Uma moeda comum não apenas fortaleceria a cooperação entre os países membros, mas também poderia atrair outras economias emergentes que compartilham da mesma insatisfação com o sistema atual. Com uma base robusta de recursos naturais, mercado consumidor e capacidade produtiva, o BRICS tem potencial para criar uma moeda que represente uma alternativa viável ao dólar.

O impacto geopolítico

Para além das questões econômicas, a criação de uma moeda do BRICS teria implicações profundas na geopolítica. Enfraqueceria o poder dos Estados Unidos como controlador do sistema financeiro global e redistribuiria a influência econômica de forma mais equitativa. Afinal, é insustentável que uma única nação concentre tamanho poder em detrimento das demais.

Este movimento também sinalizaria uma nova era de multipolaridade, em que blocos regionais ou alianças estratégicas desempenhariam papéis mais relevantes no cenário global. A descentralização do poder econômico é uma demanda legítima de países que, por décadas, enfrentaram desvantagens estruturais no sistema atual.

Um caminho necessário

O debate sobre a moeda do BRICS reflete um desejo de soberania e igualdade. A dependência de uma única moeda centralizada em uma potência hegemônica coloca as economias globais em risco e limita o desenvolvimento de nações emergentes. Assim, apostar em alternativas como a criação de uma moeda para o BRICS não é apenas estratégico, mas necessário.

Embora o caminho seja repleto de desafios, as oportunidades são igualmente significativas. Os chineses e os russos já demonstraram que é possível operar fora do domínio do dólar sem sofrer consequências catastróficas. O próximo passo é expandir essa visão para todo o BRICS e, quem sabe, para outros parceiros ao redor do mundo. Afinal, é hora de tirar o poder absoluto de uma única nação e devolver às economias globais o direito de negociar em pé de igualdade.

Por mais ousado que pareça, o momento para transformar essa ideia em realidade é agora.

Julio Medeiros

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