Em documento entregue à CPI da Covid, o Governo Federal teria promovido campanhas através de repasses públicos a personalidades de TV para promover pautas alinhadas com o Planalto.
Segundo apurou a Folha de S. Paulo, planilhas da Secretaria Especial de Comunicação Social (SECOM) do Governo Federal mostram que personalidades como Luciana Gimenez, Sikêira Júnior e Luís Ernesto Lacombe teriam recebido dinheiro público para promover propostas do Governo Federal, como a reforma da Previdência e o tratamento precoce contra a Covid-19. Segundo documento, os repasses públicos foram feitos através das empresas que tem contrato com o Executivo.

As planilhas foram entregues à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid como mais um dos documentos que estão fazendo parte das investigações conduzidas no Senado com o propósito de apurar omissões e ações do Governo Federal no enfrentamento da Covid-19.
Quem são os envolvidos
Entre os envolvidos estão o apresentador do programa policial “Alerta Nacional” da RedeTV!, Sikêira Jr., que recebeu R$ 120 mil para promover as pautas do Planalto. Além disso, Sikêira tem se envolvido em diversas polêmicas, principalmente depois de declarações contra comunidade LGBTQIA+.
Outro nome citado pela planilha é o da apresentadora Luciana Gimenes. Isso porque os dados da SECOM mostram 9 transferências entre 2019 e 2020 que somam R$ 51 mil direcionados à apresentadora.
Além dessa quantia, a apresentadora recebeu outros R$ 6 mil reais pela veiculação da “Semana Brasil”, campanha que incentivava a retomada da economia durante a pandemia de Covid-19.
Luciana também recebeu R$ 12 mil pelo lançamento da nova cédula de R$ 200. Os valores, segundo o documento, foram transferidos à Luciana através da empresa Magic Lu Promoções, Eventos e Comercio de Produtos de Uso Pessoal e Doméstico.
Jornalista também está envolvido entre os que receberam verba pública
Já Luiz Ernesto Lacombe também é apresentador de programa na RedeTV!, assim como Luciana. Uma das grandes apostas do jornalismo da emissora paulistana, Lacombe afirmou ter afinidade com o pensamento conservador, inclusive alegando ter saído da Rede Bandeirantes por ter sofrido censura por seu posicionamento.

O nome dele também foi encontrado na lista de pagamentos da SECOM. Lacombe recebeu R$ 20 mil pela campanha Semana Nacional do Trânsito e por outra sobre riscos de exposição de crianças na internet. A transação foi feita por meio da empresa Lala Produções.
Apresentadores e afinidades
Os repasses públicos mostram uma Secretaria de Comunicação estrategicamente posicionada na promoção dos programas do governo.
Isso porque o Presidente já tem atuado de maneira a aproximar emissoras favoráveis ao seu programa, alocando dinheiro público na promoção de campanhas federais, já que os nomes que vieram a público são conhecidos pela sua proximidade com as pautas do Planalto e com o próprio Presidente Jair Bolsonaro.
Luciana Gimenez, por exemplo, levou Bolsonaro em seu programa por diversas vezes antes e depois da campanha eleitoral. Em declaração, ela disse que havia sido ela e seu programa que tinham “lançado Bolsonaro para Presidente”. Luciana é casada com o empresário Marcelo de Carvalho, que também é próximo a Bolsonaro, e vice-presidente da RedeTV!.

Sikêira Jr. também é um dos nomes que se mostra bastante favorável ao presidente, seja no alinhamento de ideias, seja na própria aparição do presidente em seu programa.

Lacombe, porém, é mais conhecido pelos temas abordados em seu programa, Opinião no Ar. Grande parte das pautas trazidas para a mesa de debates são comuns e se mostram favoráveis ao atos praticados pela presidência da república, mesmo que esse alinhamento ocorra de maneira pouco mais discreta em relação ao tom escolhido por Luciana e Sikêira.
Bolsonaro tem trabalhado nitidamente em uma tentativa de afastamento das mídias que considera “fake news” ou de baixa qualidade. Exemplo disso foi o episódio do último dia 23, quando o presidente mandou uma jornalista “calar a boca”, notícia trazida pelos Desgovernados.