O Presidente Jair Bolsonaro figurou mais um vez as notícias de política nacional ao mandar integrantes da sua própria equipe e a repórter da TV Vanguarda — afiliada da Rede Globo — calarem a boca. Irritado pelas perguntas referentes ao uso de máscaras, tanto na motociada do dia 12 de junho, quanto ao fato de ter chegado ao evento, em Guaratinguetá, São Paulo, o Presidente disparou contra a profissional de imprensa, contra a CNN Brasil e a Rede Globo.
Bolsonaro foi a cerimônia de formatura dos Sargentos da Aeronáutica na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) e já quando chegou foi hostilizado por alguns dos presentes que gritavam palavras como “genocida” e “palhaço”.
Os ataques tiveram início na saída do evento em que jornalistas faziam perguntas ao presidente, principalmente em um momento delicado da sua gestão. São muitos os números contra Bolsonaro: aumento do número de mortos pela Covid-19 para 500.000, queda na taxa de aprovação do governo e protestos cada vez maiores pedindo pelo seu impeachment.
O presidente perdeu o controle depois de ser perguntado sobre a multa que levou quando foi à motociada em São Paulo e sobre o fato de ter chegado ao evento da Aeronáutica sem máscara de proteção, Bolsonaro começou sua série de ataques interrompendo a jornalista e depois mandando-a calar a boca.
“Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa. Cala a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, canalha, que não ajuda em nada. Vocês não ajudam em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam” — disse o Presidente Jair Bolsonaro.
Nitidamente irritado com a pergunta, o presidente não poupou redes como a CNN Brasil e a Rede Globo, que apresentaram reportagens contra o Governo Brasileiro. Retirando a máscara durante a entrevista a fim de mostrar que vai a lugares “como quiser” o presidente também afirmou:
“Me botem no Jornal Nacional agora. Vai botar agora? Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora? Você está feliz agora?”

Ataques à imprensa
Não é de hoje que Bolsonaro ataca os veículo de comunicação, principalmente os de maior renome e tradição na imprensa brasileira, como a Folha de São Paulo e a Rede Globo. Por reiteradas vezes o presidente demonstrou sua insatisfação com o conteúdo das reportagens, principalmente aquelas que iam contra o seu Governo.
Em 6 de abril, em frente ao Palácio da Alvorada, principal palco de suas frases mais estapafúrdias, Bolsonaro se gabou por ter cancelado as assinaturas de revistas e jornais:
“Eu cancelei todas assinaturas de revistas e jornais do governo federal. Acabou. Já entramos no segundo ano sem nada. A gente não pode começar o dia envenenado.”, afirmou o Presidente a apoiadores e à imprensa em frente a residência presidencial.
Em outra ocasião, em 5 de maio de 2020, foi a vez da Folha de São Paulo, um dos maiores jornais do país sofrerem um ataque do mandatário. Mostrando a manchete do jornal que mostrava a troca do comando da Polícia Federal depois de ordem de Bolsonaro, o presidente atacou o veículo:
“Que imprensa canalha a Folha de S.Paulo. Canalha é elogio para a Folha de S.Paulo. O atual superintendente do Rio de Janeiro, que o [ex-ministro Sergio] Moro disse que eu quero trocar por questões familiares.” — disse o presidente.
Veículo extraoficial
Em tentativa de fazer oposição à “mídia principal”, Bolsonaro foi um dos maiores usuários das redes sociais no meio político: publicações em redes como Instagram, WhatsApp e lives no Facebook e, mais recentemente, o Telegram, se tornaram o novo veículo de propaganda e informação das ações do presidente.
Sem dar direito de resposta e em um canal que só oferece uma versão dos fatos, Bolsonaro se valia das redes sociais, onde seu público é, majoritariamente, apoiador do seu governo, para veicular aquilo que considerava de interesse público.
O tratamento precoce, por exemplo, foi amplamente divulgado nas redes sociais do presidente. Como noticiou o Estado de São Paulo em 6 de junho desse ano, Bolsonaro foi o “influenciador” que mais promoveu engajamento nas redes sociais em relação à cloroquina, ficando à frente até do ex-presidente americano Donald Trump, um grande usuário do Twitter — banido da plataforma pela incitação à violência que culminou com o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro.
Em levantamento feito pela Agência Lupa, Bolsonaro atacou a imprensa em 17 das 21 lives feitas no ano de 2021. Esse número demonstra o nítido conflito do presidente com a imprensa brasileira.
Opinião: Bolsonaro e a imprensa: um eterno estado de guerra
Bolsonaro é o tipo de governante que não sabe ser contrariado — principalmente quando o texto jornalístico traz palavras difíceis como “saúde” e “democracia”. Tem uma nítida dificuldade em ouvir a opinião contrária à sua: atitude típica para quem ainda vive uma eterna infantilidade democrática.

Seu desprezo pela imprensa e pela sua liberdade fez com que o Brasil figurasse na 111º posição na Classificação Mundial da Liberdade 2021, que é divulgado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Mais do que atacar verbalmente, Bolsonaro, como Presidente da República, dá munição para os ataques, inclusive físicos, que jornalistas brasileiros tem sofrido: em relatório apresentado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), foram 32 casos agressão a profissionais de imprensa.
A sua tropa — a maior parte composta de descerebrados informados por Telegram — assistem imóveis as barbaridades ditas pelo mandatário e compartilham sem o menor crivo informações falsas — as chamadas fake news. Ética jornalística, para “Bolsogados”, é saber concordar com o presidente, e não procurar mais de um lado da história.
O “cala boca” de segunda-feira é o exemplo mais clássico do desejo inconsciente defendido por Freud no caso de Bolsonaro: seu consciente quer, a todo momento, fazer calar aqueles que contrariam sua vontade. Como uma criança que chora por não obter aquilo que quer, Bolsonaro esperneia, grita e só demonstra sua incapacidade de lidar com fatos e com a opinião contrária.