O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (25) a aplicação da terceira dose da vacina contra a Covid-19. Pessoas acima de 60 anos receberão o reforço a partir de 6 de setembro.
O anúncio do governador ocorreu poucas horas após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmar que a terceira dose dos imunizantes contra o coronavírus será aplicada em pessoas com mais de 70 anos e imunossuprimidos a partir do dia 15 de setembro.
Estudo apontam necessidade da terceira dose
Estudos têm demonstrado necessidade de uma terceira dose para ampliar a imunidade diante de novas variantes do vírus, como a delta, que pode tornar a imunidade de rebanho impossível, segundo especialistas. Em países como Estados Unidos, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, França, Israel, República Dominicana, Rússia e Uruguai a 3ª dose já foi aprovada pelos órgãos de saúde pública.
Com o anúncio, tanto do Ministério da Saúde, quanto do Governo de São Paulo, o Brasil se torna mais um dos que irá aplicar o reforço vacinal contra a Covid-19.

De acordo com Doria, 900 mil pessoas devem receber a terceira dose de imunização no Estado de São Paulo.
“Todos devem receber a imunização adicional, o reforço não é para um imunizante específico. O que os dados mostram é que a variante delta é mais resistente e a proteção contra ela só é maior após a terceira dose para qualquer tipo de vacina” apontou o Coordenador do Comitê Científico de São Paulo, João Gabbardo.
No Estado, o esquema de vacinação começará pelos idosos: a meta é garantir que receba a terceira dose quem tem mais de 70 anos e totalmente imunizado há pelo menos seis meses. Para imunossuprimidos, ou seja, quem tem baixa imunidade, o objetivo é vacinar quem já recebeu a segunda dose há pelo menos 28 dias.
Terceira dose será de qualquer imunizante disponível no estado de São Paulo
O Palácio dos Bandeirantes ainda não apresentou um esquema de vacinação, mas já indicou que pretende iniciar a vacinação por quem tem mais de 90 anos e que usará o imunizante que estiver disponível. Novos estudos apontam que combinar vacinas em diferentes aplicações não apresenta risco.
“A terceira dose será aplicada com a vacina que tivermos disponível. O escalonamento de aplicação obedecerá os mesmos critérios de antes, começando por aqueles acima de 90 anos e depois seguimos para as demais faixas etárias. O cronograma vai ser definido de acordo com a quantidade de vacinas disponíveis”, disse Gabbardo.
Para Ministro da Saúde Coronavac está fora do esquema
Em sua fala, Queiroga não incluiu a Coronavac na lista de vacinas que podem ser aplicadas como reforço. A posição do Governo Federal é que as aplicações sejam preferencialmente das vacinas da Pfizer ou, em caso de necessidade, da Janssen ou AstraZeneca.

Já para o presidente do Instituo Butantan, Dimas Covas, a exclusão da CoronaVac não tem embasamento técnico e se trata de mais um ataque do Governo Federal contra o Governo paulista. Segundo ele, a recomendação do Ministério não será seguida em São Paulo.
“Esses ataques à Coronavac não são novidade. Convivemos com eles diariamente, ataques que vêm do governo federal, especialmente do presidente e agora do ministro. Não há fato científico que sustente a decisão do ministro Queiroga. É mais uma vez a preferência por atacar a CoronaCac”, disse Covas.
Gabbardo acrescentou ainda que o imunizante é capaz de aumentar em cinco vezes a produção de anticorpos em quem recebeu a terceira dose. A CoronaVac foi desenvolvida através de parceria do Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac.
Mesmo considerando as vacinas produzidas no Estado, São Paulo voltou a cobrar o Ministério da Saúde o envio de novas doses das vacinas da Pfizer e AstraZeneca para que seja possível reduzir o intervalo entre as doses no estado. O governo paulista já passou por redução no fornecimento das doses, segundo João Dória.
Opinião de especialistas diverge sobre necessidade da dose reforço
Segundo parte dos especialistas em epidemiologia, a 3ª dose é necessária. Entre as justificativas estaria o aumento de casos e mortes de idosos imunizados com as duas doses no Brasil. Essa parcela da população representa a maior parte dos internados em UTI’s em hospitais privados e da rede pública da capital, São Paulo.

O principal motivo é a prevenção de novas infecções na população mais vulnerável. Porém, o que se espera é que a aplicação da terceira dose não atrapalhe o andamento da vacinação para população com mais de 18 anos que receberam apenas a primeira.
No entanto, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estratégia representa um erro técnico, moral e político.
Diretores da entidade têm defendido que a prioridade deveria ser a vacinação da maior parcela da população mundial. Além disso, apontam que não há comprovação científica sobre a necessidade ou a segurança da terceira dose e que o regime vacinal atual tem se provado bem-sucedido em diminuir o número de internações e mortes.
Estudos no exterior demonstram queda da eficácia após 6 meses
Um estudo realizado no Reino Unido apontou que a proteção de duas doses das vacinas Pfizer e AstraZeneca começa a diminuir em cinco meses. No caso da Pfizer, a eficiência de 88% calculada um mês após a segunda dose caiu para 74% após cinco meses.
Já para a AstraZeneca, a taxa de eficiência um mês após a aplicação da segunda dose é 77%. Quatro meses depois a eficácia diminui para 67%.
“É natural que diminuam, mas isso não quer dizer que não tem a proteção.”, afirma a infectologista Denise Garrett.

Garret já fez parte Centro de Controle de Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, orgão que regula o setor de saúde Americano. Além disso, é atual vice-presidenta do Sabin Vaccine Institute, em Washington.
O argumento da médica, que é defendido pela maior parcela da comunidade científica, é que a quantidade de anticorpos cai com o passar do tempo, mesmo depois da segunda dose de qualquer vacina. Porém isso não significa que as pessoas ficarão vulneráveis novamente.
Terceira dose da vacina apenas em alguns países pode prejudicar o resto do mundo
A OMS pediu a países ricos que adiem planos de aplicar a terceira dose em massa. Segundo a organização, ainda existem nações que mal começaram a vacinar os principais grupos de risco. A organização informou o número crescente de mortes no continente africano e a dificuldade de vacinação de vários países da região tem contribuído para a sobrecarga dos sistemas locais.
O imunologista Gustavo Cabral é um dos pioneiros brasileiros no desenvolvimento da vacina no Brasil. Com 39 anos, o pesquisador, natural de Creguenhem, na Bahia, é uma das maiores autoridades no desenvolvimento de uma vacina nacional no Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Cabral defende um programa de vacinação amplo e mundial.
“Numa pandemia, isso é claro: ou todos os países agem de forma conectada ou aqueles mais suscetíveis vão sofrer por mais tempo e, consequentemente, nenhum país, mesmo tendo controlado a pandemia, vai estar tranquilo”.
Por enquanto, o meio mais seguro de conter a transmissão e impedir o surgimento de novas variantes é o avanço da primeira rodada da vacinação no Brasil e em todos os outros países. Até o fechamento dessa edição 73,73% da população do Estado de São Paulo foi imunizada com ao menos uma dose.