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sábado, 21 dezembro , 2024

Evangélicos são maioria nas pautas feitas por Bolsonaro

Evangélicos são uma das maiores bases do governo e vota em peso em matérias propostas pelo Planalto, como tratamento precoce e voto impresso.

Os evangélicos no Congresso Nacional vêm sendo grupo de maior relevância para as pautas e projetos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em projetos como o do voto impresso e o da mudança das demarcações indígenas, o grupo foi grande parte dos votos favoráveis.

Ambas as pautas foram amplamente divulgadas pelo Planalto nos últimos meses, principalmente nas redes sociais, como grupos de WhatApp e Telegram, que são utilizados com bastante frequência por grupos cristãos — grupos onde mensagens religiosas se misturam com temas políticos.

Além disso, líderes evangélicos tem sido essenciais para as campanhas de Bolsonaro. O pastor Silas Malafaia é líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo e uma presença em redes sociais. As mensagens do pastor são veiculadas em contas no Facebook, YouTube, Twitter e Instagram, além de mensagens compartilháveis em grupos no WhatsApp e Telegram.

Bolsonaro e Malafaia
O Pastor Silas Malafaia em encontro com Jair Bolsonaro em abril deste ano. Fotos: Isac Nóbrega/PR

Malafaia foi uma das lideranças que apoiou, por exemplo, a proposta de volta ao voto impresso e é visitante frequente do Palácio do Planalto, como dito pelo próprio filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), como noticiado pelo jornal Correio Braziliense.

Em vídeo publicado no YouTube em 6 de julho desse ano o pastor diz que o Supremo Tribunal Federal (STF) dá desculpas “esfarrapadas” para implementação do projeto, como o fato de “gastar muito dinheiro” e faz críticas ao sistema de contagens de voto eletrônico.

“Toda apuração de voto tem que ser pública. A apuração em segredo já é fraude. Boletim de urna só da resultado”, disse o pastor no vídeo.

Mesmo com as campanhas, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso foi rejeitada pela Casa, por 218 deputados. Para ser aprovada, uma PEC precisa de 3/5 de votos favoráveis na Casa, ou seja, 308 votos da Câmara dos Deputados.

Propostas que apresentam mudanças nas demarcações dos povos indígenas, por exemplo, são acompanhadas de vídeos, como o da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

No vídeo, Damares relata sobre o ritual do Puxirum praticado em “algumas aldeias”, como relata a própria ministra sem dizer quais aldeias seriam essas.

O vídeo tem a logomarca da produtora Brasil Paralelo, também conhecida por produzir material alinhado com pautas de Bolsonaro e é amplamente divulgado em redes cristãs e bolsonaristas — quando não são ambos.

O afago é correspondido também por Bolsonaro, que promete um ministro cristão no STF que desde 2019. A promessa foi cumprida com a indicação do presidente de André Mendonça que é membro da denominação crista conhecida como presbiteriana.

André Mendonça
Mendonça no Dia Internacional de Combate às Drogas. de Foto: Isaac Amorim/MJSP

Mendonça já se manifestou contrário a questões como aborto, maioridade penal, cannabis medicinal e uniões homoafetivas — no caso das uniões LGBTQIA+, Mendonça acredita que os brasileiros com “convicções religiosas” possam discordar e questionar o “homossexualismo”.

A presença de Bolsonaro, no meio evangélico, é massiva, seja pelo uso de redes de comunicação muito movimentadas, seja pela promoção de pautas do governo nos púlpitos e sermões dominicais.

“Quantos tentam nos deixar de lado dizendo que o Estado é laico? O Estado é laico, mas nós somos cristãos. Ou, para plagiar a minha querida Damares [Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos], nós somos terrivelmente cristãos”, disse Bolsonaro acerca do tema.

Em consonância, Bolsonaro ressalta o fato de ser cristão. Em passeatas e cidades que o presidente passa, Bolsonaro frequentemente visita igrejas e entidades cristãs, onde recebe orações e pode falar em púlpitos. A fala do presidente em algumas igrejas é um evento.

Como votaram os evangélicos nas últimas propostas do Planalto

Na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso, o Instituto de Estudos da Religião (Iser) analisou o posicionamento de 449 deputados que participaram da votação, considerando que um deles se absteve e o outro, Arthur Lira, não votou por ser presidente da Câmara.

O instituto monitora frentes parlamentares como a católica, a evangélica e as de defesa dos povos tradicionais de matriz africana. Dos 449 analisados, 191 são católicos, 80 são evangélicos, 12 são cristãos que não especificaram a linha. Espíritas são 4. As correntes espiritualista, União do Vegetal, ateia e agnóstica tem ao menos um parlamentar, segundo monitoramento.

Bancada evangélica
Café da manhã da Bancada Evangélica com o presidente Bolsonaro em maio desse ano. Foto: Marcos Corrêa/PR

O instituto também contabilizou 8 parlamentares que não foram identificados e 20 que não possuem religião.

Na votação da PEC, entre os que se definem como católicos, 100 votaram não e 90 votaram pela aprovação sim. Já no bloco evangélico, apenas 8 ficaram contra, enquanto 72 apoiaram o retorno do voto impresso no Brasil.

Proposta acerca das demarcações indígenas é aprovada na Câmara através de parlamentares evangélicos

A segunda proposta de Bolsonaro em que ocorreu apoio evangélico foi a das demarcações indígenas. O texto previa um marco temporal que tornaria válida apenas as demarcações que os povos nativos já usufruíam quando a Constituição de 1988 foi promulgada.

Dos 21 votos contra a proposta nenhum deles pertence a um evangélico.

Bolsonaro e silas malafaia.
Bolsonaro em encontro com Pastor Silas Malafaia, Presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB) em junho de 2020. Foto: Isac Nóbrega/PR

Marco Feliciano (Republicanos-SP), da Assembleia de Deus, o anglicano Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Igreja Universal, fazem parte dos 11 representantes do segmento favorável à ideia, foi aprovada com o voto de 40 deputados.

O único deputado contrário ao projeto e que é signatário da Frente Parlamentar Evangélica é Flavio Trad (PSD-MS), no entanto ele é católico.

Episódios como o de Trad ocorrem porque muitos deputados incluem seus nomes baseados em amizades e como forma de colaboração, já que uma frente parlamentar precisa de pelo menos 171 assinaturas.

Pesquisadora explica relação da política e da religião atualmente

Magali Cunha, pesquisadora do Iser, fala o papel da religião dentro da política nos tempos atuais.

“Como a religião tem um lugar importante na cultura brasileira, ela nunca esteve fora desta relação com a política. Afinal, o catolicismo chegou por aqui com os colonizadores e até hoje exerce uma influência nos espaços de poder.”

Magali Cunha, pesquisadora do Iser, fala o papel da religião dentro da política nos tempos atuais.
Magali Cunha é jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. Foto: Nadia Munhoz/RRJ

Porém, a pesquisadora também destaca a influência dos grupos evangélicos para o crescimento político e maior representatividade da comunidade.

“[…] foi a ocupação de espaços por evangélicos a partir dos anos 1980, no Legislativo, no Executivo e, mais recentemente, no Judiciário, que levantou a atenção para esta discussão”, ressaltou.

A pesquisadora ainda acredita que tal crescimento “explode com o processo eleitoral de 2018, com as alianças religiosas em torno de Bolsonaro, que instrumentalizou, de forma inédita, a dimensão religiosa em uma campanha à Presidência”.

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