Como você já deve ter notado no título dessa leitura, pretendo trazer para vocês alguns pontos e reflexões com o atual cenário político brasileiro, principalmente quando se fala sobre poder midiático e influência.
Claro que tratar sobre mídia e a sua relação com o poder é um assunto polêmico por si só. Ele traz à tona posicionamentos que, só pelo fato de serem abordados, já vão garantir a esse autor aquela clássica máscara do “comunista”, “antipatriótico”, “ciclista” e, com certeza, um monte de outras coisas — que podem até ser verdade —, mas que têm pouca relevância quando olhamos o cenário com cautela.
A mídia é um dos conceitos mais básicos de como entendemos nossa civilização moderna: receber, verificar e transmitir informações é vital para o modelo de sociedade na qual nos acostumamos a viver. Sabemos, porém, que existe um poder gigante quando se trata de quais informações serão utilizadas e para qual fim: a diferença entre uma arma e uma ferramenta está em seu uso.
O Presidente da República, Jair Bolsonaro, em suas falas alia a produção irresponsável de informações inverídicas à transformação destas em versão oficial. Tudo em nome da imagem pública e da “autoridade” da Presidência da República — ambos questionáveis, principalmente quando se considera os ataques do Presidente à imprensa livre e quando suas falar são mais alvos de memes que de atos à altura do cargo que temporariamente ocupa, mostrando sua total incompetência e despreparo para ocupar tal.
Vale ressaltar, também, que achar que o Presidente arquitetou esse plano midiático sozinho é supervalorizar as capacidades cognitivas dele:
o fenômeno que o elegeu Bolsonaro se utilizou também do descontentamento histórico realizado pela mídia mainstream.
É impossível não ficar preocupado em meio a uma situação como essa: o Chefe do Executivo Nacional, em seu sonho de poder, prefere acreditar em seu fantástico histórico de atleta — um prato cheio para uma sessão de psicanálise —, enquanto promove suas informações falsas em redes sociais e ataca abertamente os meios e profissionais que contam alguma história diferente da sua.
Estamos em uma crise midiática dentro de um regime que se diz democrático: jornalistas estão sendo atacados, câmeras e profissionais do audiovisual têm seus equipamentos quebrados, e profissionais de arte e cultura se veem silenciados pela lógica moralista e autoritária da Presidência da República. É importante ressaltar aqui que o fato não é apenas ataques sem muita direção é um ataque coordenado e com o objetivo de tentar controlar a imprensa e as ideias e a esse ponto eu espero não precisar mais explicar para você caro leitor que está totalmente alinhado com um regime autoritário e controlador.
Um exemplo disso é a recente divulgação da informação de que a Agência Brasileira de Inteligência, a ABIN, estaria sendo usada para monitoramento de profissionais da mídia que pudessem oferecer “risco” ao Presidente e à sua família. E por família, entenda-se a Primeira-Dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro e, mais recentemente, Jair Renan Bolsonaro: todos alvos de alguma investigação. Silenciar ou desacreditar qualquer forma de mídia é um dos primeiro passos de regimes autoritários e, pelo bem da democracia, ele deve ser previsto com antecedência.
Sem dúvida, estamos diante de uma crise midiática que põe em risco nossa capacidade de confiar nos meios de comunicação e entender a realidade que eles descrevem e situações como essas já são conhecidas na história mundial.
Ainda que seja um exemplo há muito batido, a Alemanha do pós-primeira guerra viu crescer um movimento que era pautado em políticas de mídia muito próximas da de Bolsonaro: o Nazismo, para além da figura de Adolf Hitler, tinha pessoas como Joseph Goebbels, membro do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e Ministro da Propaganda, o maior construtor da máquina midiática nazista da década de 1930, transformando Hitler na figura do “Führer” da Alemanha.
Foi com uso intensivo dos meios de comunicação da época, como o rádio e o cinema, que tornaram a mensagem nazista algo tão contundente e capaz de criar o movimento responsável pela morte de milhões de pessoas.
A criação de um “inimigo nacional”; o uso, obstrução e aparelhagem da fonte “oficial” de informações e a criação de uma narrativa heróica do país e seus líderes são traços assustadores que Hitler e Bolsonaro têm em comum.
Há entre o Füher alemão e o Presidente do Brasil um dos fatores comuns de maior preocupação: ambos foram eleitos democraticamente, ainda que embalados como produtos midiáticos de propaganda de um projeto de poder ditatorial, o que desafia a noção de liberdade e democracia atuais.
Stalin na União Soviética, de Pinochet, no Chile, de Costa e Silva, no Brasil seguiram os mesmos passos e beberam da mesma fonte quando se trata de mídia e a sua importância para manutenção do regime.
É impossível não notar que todos os citados nunca temeram perpetuar seu desprezo pela manutenção de instituições democráticas ou de um fluxo de informações livres. Bolsonaro não é exceção.
Em 1999, por exemplo, ainda como Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, Bolsonaro afirmou que “[…] a atual Constituição garante a intervenção das Forças Armadas para a manutenção da lei e da ordem”. Disse também que é “[…] a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que este Congresso dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo”.
Já em 2010, também como membro do Congresso Nacional pelo mesmo Estado, Bolsonaro disse que “se o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um couro e ele muda o comportamento dele”, o que vai de encontro ao que diz a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Em outra ocasião, ainda como candidato à Presidência da República, em 2018, Bolsonaro afirmou em comício no Acre, que sua gestão iri “[…] fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vou botar esses picaretas para correr do Acre. Já que gosta tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá”.
Assim, é notório que manipulação midiática por parte da Gestão Bolsonaro tem seguido todos os passos de uma ditadura. Cada dia mais vemos a história se repetir: primeiro com a tragédia da ditadura brasileira e depois com a farsa “democrática” de Bolsonaro.
Uma pergunta, contudo, vêm à minha mente: caso Bolsonaro não seja reeleito em 2022, passará ele a Faixa Presidencial mesmo que o vencedor ou vencedora seja de esquerda? Existe uma linha tênue entre a democracia e uma ditadura, e golpes não são uma surpresa quando vêm de pessoas como Bolsonaro.
Eu realmente queria que a ideia de um golpe fosse apenas um delírio, mas, infelizmente, cogitei isso em situações muito menos críticas.