A dependência do Sistema Único de Saúde (SUS) tem evidenciado uma deficiência da saúde pública brasileira em prestar atendimento adequado à população. Diante disso, cresce o número de pessoas que optam por planos de saúde como forma de obter acesso à saúde.
Além dessas dificuldades, o que se vê é um sucateamento do SUS, sobretudo devido à corrupção e por constantes medidas do governo federal. A insistência em desacreditar vacinas e investir verbas em medicamentos sem eficácia comprovada torna a atuação ainda mais difícil.

Foto: Pedro França/Agência Senado
O resultado é uma saúde pública deixada à míngua, que sofre com hospitais lotados e sem materiais médicos, conforme entrevista divulgada no Estado de Minas.
E não só é falha no atendimento à população, bem como empurra grande número de pessoas para a iniciativa privada.
A capacidade de atendimento e investimento tornam os planos de saúde uma alternativa melhor para atendimentos que no SUS podem demorar meses para serem realizados. Assim, a situação da saúde do Brasil pode ser melhor entendida quando vista a partir dos planos de saúde.
O mercado dos planos de saúde
Uma parcela significativa da rede privada é sustentada por convênios de saúde, que podem ser parte de acordos coletivos ou pagos mensalmente.
Assim, no modelo empresarial, funcionários e empresas dividem os custos de exames, consultas e tratamentos nos hospitais conveniados. Para isso, é necessário se submeter a regras como períodos de carência e restrições quanto à tratamentos de alta complexidade.

Ocupando o hiato deixado pela saúde pública , setor privado cresce em ritmo acelerado: Só no ano de 2020, o lucro do setor foi de R$ 17,5 bilhões, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
São 48 milhões de brasileiros conveniados, seja pela necessidade de acompanhamento médico, seja pela segurança que rede de atendimento oferece em caso de emergência.
A nova realidade
Porém, com a flexibilização das leis trabalhistas e com o aumento de Microempreendedores Individuais (MEI’s), buscar por acordos coletivos se tornou algo inviável. Assim, a única opção viável para muitas pessoas é a adesão aos planos individuais.

Em outras palavras, as mensalidades de convênios passaram a fazer parte do orçamento doméstico de milhões de brasileiros, tornando esse orçamento ainda mais apertado, principalmente diante de reajustes dos planos de 8,14% no ano passado segundo a ANS.
Além disso, o próprio custo de vida no Brasil tem tornado a vida dos mais pobres mais difícil: com a inflação próxima 6%, segundo boletim Focus, houve significativa corrosão do poder de compra da família brasileiras, principalmente para alimentação, moradia e saúde.
O papel da renda
Nesse sentido, a renda se tornou um dos fatores de maior peso na contratação de planos de saúde. Pessoas com cargos melhor remunerados conseguem pagar por planos melhores, o que durante a pandemia trouxe maior segurança a quem podia arcar com esses custos.
Some-se a isso o fato de que, durante a pandemia, a concentração de renda foi maior para empregos em home office e de maior qualificação.

De acordo com a pesquisa PNAD Covid19, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que apenas 0,9% do trabalho remoto brasileiro foi feito por pessoas com fundamental completo ou superior incompleto, que tem menor renda per capta — recorte que também corresponde a 46,4% da população de 25 à 34 anos, faixa onde se encontra o maior número de desocupados, também segundo o IBGE.
Planos de saúde e vacinação contra a Covid-19
Com a recente declaração do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendendo a inclusão de vacinas contra Covid-19 nos planos de saúde, um novo abismo entre quem tem e quem não tem acesso a esse tipo de serviço.
Isso porque o Plano Nacional de Imunização tem encontrado dificuldades sérias em distribuir e aplicar vacinas, seja pela dificuldade logística, seja pelos constantes entraves e escândalos nos quais o governo federal tem se envolvido.
Assim, ao permitir que os planos de saúde possam vacinar antes o poder público, cria-se uma vantagem econômica que beneficia quem já possui os planos.

Desse modo, essa divergência poderia ter impactos consideráveis, principalmente do ponto de vista econômico, já que pessoas vacinadas pela iniciativa privada poderiam retornar às atividades econômicas presenciais antes de quem depende do SUS.
Uma vez que possuem maior capacidade logística, de negociação e de aporte financeiro, os planos de saúde sairiam da mesa de negociações ainda mais fortalecidos. Financeiramente mais estruturados, os planos de saúde seriam uma alternativa para quem precisa da vacina mais rápido para voltar a trabalhar e gerar renda.