Boletim publicado ontem (19) pelo Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que idosos voltaram a ser maioria nos óbitos por Covid-19 nos últimos tempos.
Segundo relatório, entre 6 a 12 de junho, o número de óbitos de idosos era de 44,6%, já entre 1º a 14 de agosto, o número saltou para 69,2%. No caso das internações, os idosos eram de 27,1% e agora são 43,6% nos mesmos períodos medidos pela pesquisa.
Uma hipótese para o aumento desses casos é que com o avanço da vacinação dos públicos de idades cada vez menores, diminui-se os casos de internação dessa parcela da população. Essa queda faz com que se crie uma impressão de que mais idosos estão sendo internados, quando são, na verdade, os mais vulneráveis à doença.
Por outro lado, também se cogita a ideia de que a população mais idosa ou com algum tipo de comorbidade têm o sistema imunológico enfraquecido pela própria idade, uma redução normal e esperada com o passar dos anos, independentemente da vacina aplicada – um dos motivos pelos quais a vacinação de gripe é anual para idosos.
Exemplo desse possível cenário é o ator Tarcísio Meira, que morreu aos 85 anos no último dia 12. O ator já havia sido imunizado em março, mas acabou falecendo de Covid-19 depois de seis dias na internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ficou entubado. A atriz Glória Menezes (86), esposa de Tarcísio também foi internada, porém com quadro mais leve.

A questão não é a eficácia das vacinas
Na opinião de especialistas, não se trata de uma redução ou até ineficácia das vacinas aplicadas, mas sim de um processo natural de enfraquecimento do sistema imunológico dos idosos, população que ainda é a mais afetada pela Covid-19.
No Estado de São Paulo, por exemplo, os idosos eram 66% das vítimas da Covid-19 até maio deste ano, como apontou reportagem do G1 e TV Globo. O levantamento considerou as mais de 100 mil mortes ocorridas no Estado e contabilizadas pelo no sistema Datasus.
Além disso, um estudo preliminar realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e pela Escola de Saúde Pública em Guangdong, na China, analisou quatro imunizantes feitos a partir de vírus inativado, entre eles a Coronavac. Os resultados apontaram que esses imunizantes são eficazes na proteção contra quadros graves da Covid-19, inclusive os causados pela variante Delta.
O estudo apontou também que as vacinas analisadas foram capazes de criar uma proteção de até 77,7% para casos de pneumonia e de 100% para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), ambas causadas pela Covid-19. Todas elas foram capazes de evitar óbitos.
Terceira dose é vista como uma opção por órgãos de saúde
Na quarta-feira (18), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou que o Governo Federal considere a opção de oferecer uma terceira dose para quem tomou a Coronavac, de modo a reforçar a imunização.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, comentou positivamente sobre uma possível 3ª dose da vacinação, mas ressaltou que poderia haver uma lista de prioridades, começando por profissionais da saúde e idosos como no início da vacinação.

A ideia por trás do reforço na vacinação é melhorar o cenário diante do avanço de variantes, como a delta.
“Estamos planejando aqui, para que no momento em que tivermos todos os dados científicos, número de doses suficientes, já orientar o reforço dessa vacina, isso em relação a todos os imunizantes disponíveis”, afirmou o ministro.
Queiroga também anunciou que no fim de julho a pasta encomendou estudos para avaliar a necessidade de dose de reforço para a Coronavac. O ministro também explicou que escolheu o imunizante do laboratório Sinovac, porque já existem estudos que avaliam a necessidade de mais uma dose para outros imunizantes.
Testes no exterior já demonstram uso da terceira dose
No cenário internacional, Israel já começou a oferecer uma terceira dose para grupos vulneráveis, como pacientes que fazem quimioterapia, portadores de doenças autoimunes ou transplantados. A maioria das vacinas aplicadas no país são as do laboratório americano Pfizer.
O Reino Unido já prepara planos de um reforço para quem tem mais de 50 anos. A ideia é aplicar a vacina antes da chegada do inverno no hemisfério Norte, durante o segundo semestre de 2021. Por lá, as vacinas mais aplicadas lá são Pfizer e AstraZeneca, desenvolvida no país junto à Universidade de Oxford.
Já na América Latina, o Chile também considera a possibilidade de aplicar uma terceira dose para a Coronavac, imunizante aplicado na maior parte da população, principalmente as mais vulneráveis.